13 Angels Standing Guard Round the Side of Your Bed

Tenho medo, sim
de descer mais e mais
às desconhecidas galerias
do mais fundo de mim.
Já desmoronada mina
de onde extrair a riqueza
e só encontrei negror e espanto.
Tenho medo, sim
desse carvão que entranha
na pele, nos ossos, no sentimento
transforma os olhos, tições ardentes;
o coração, braseiro incandescente;
o pensamento em delírio.
Sou todo um incêndio.
Sim, eu tenho medo
desse vento a alastrar o fogo
sempre aceso dos cabelos.
Talvez eu seja mesmo um louco ruivo,
mas há tanta lucidez em mim!
Sim, eu sei
as lembranças embaralham
às vezes,
já não consigo dormir
e a alma vara noites atormentada,
giram dentro de mim girassóis dourados...
Ah, mas consigo emergir
às vezes,
e então
quando a luz do lampião esfumaça
no confronto com o dia,
e meus olhos se ofuscam
de dor e de alegria,
há tanto amarelo em volta
tanto vermelho, tanto azul, tanto
que os dedos tremem
ao empunhar o pincel alucinado,
como dedos de alcoólatra
levando aos lábios o primeiro trago.
E então
penso que morrer não deve ser tão ruim,
que minha alma poderá,
enfim, misturar-se a toda cor,
e tudo que há.
Que minha alma voltará, contente
à delirante paleta do Criador...

sim, eu tenho medo desse vendaval
a me fazer planar sobre os abismos
como os corvos planam
sobre o trigal.

Poema "Pintores", Biazinha

Música, sugestão da Mariazinha

Manipulação digital, Ruela 2008

Fotografia, Ariel d'Angouleme 2008